segunda-feira, 19 de julho de 2010

Solidão, a casa é sua

Tom Zé é gênio. Todos nós somos minhocas perto dele. Não conheço ninguém que aproxima loucura e genialidade como esse baiano. Acho que ouvi Tom Zé pela primeira vez apresentado pelo meu irmão, há (talvez) dez anos atrás. Se não me engano o cd era Com Defeito de Fabricação. Sensacional. Depois o vi na televisão, com toda aquela simplicidade quase estúpida, quase insana. Queimava uma nota de um dólar e despedaçava sua roupa enquanto cantava O Gene. Tom Zé é simples e sofisticado, louco e lúcido, às vezes mais lúcido que qualquer um aqui.

Vi uma entrevista sua em que comentava o fato de Sean Lennon, filho de John & Yoko, ser seu fã. Ele disse que uma vez, ao conhecer o DJ filho do beatle fora perguntado: “O que você ouve? O que te inspirou a fazer uma música dessas?”. Tom Zé respondeu com simplicidade e doçura: “Seu pai, idiota”. Tenho seu livro publicado pela PubliFolha, Tropicalista Lenta Luta, que é uma compilação de artigos e letras. Também assisti seu documentário, Fabricando Tom Zé. Recomendo ambos. Como todo nordestino, seu sorriso é fácil, tão fácil quanto sua ira. Depois de ver o filme, me senti quase íntimo.

Tom Zé fala em “estética do plágio”. Depois de milhares de anos de história, a verdade é que ninguém mais consegue ser único. Não se inventa mais nada. Tudo é cópia. É plágio. É uma repetição do avesso, travestida de inovação brilhante. E não falo só de arte não. Ninguém está sozinho, ainda que esteja só. E aí, andando de carro pela madrugada de segunda-feira ouço Tom Zé no meu ouvido. “Na vida quem perde o telhado / Em troca recebe as estrelas / Pra rimar até se afogar / E de soluço em soluço esperar / O sol que sobe na cama / E acende o lençol / Só lhe chamando / Solicitando”. Dei risada sozinho, quase emocionado. Deitei e dormi.

Estar sozinho é doce também. “Que poeira leve”, diria Tom Zé. É assim que me sinto hoje. Leve e só. Docemente. A solidão veio acalmar a minha amargura. “O telefone chamou, foi engano...”. Eu bem gosto assim. Solidão, olhe, pode entrar que a casa é sua.


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