quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sobre o título do blogue

“Nem toda loucura é genial, nem toda lucidez é velha”. Assim escreveu Chico Buarque em 1968. Não, o título deste blogue não é criação minha. É uma citação de um dos artistas mais completos desse país. Aliás, Chico Buarque tem uma coisa única, pelo menos no meu ponto de vista, ele nos torna íntimos de suas músicas. A gente ouve e ela passa a parecer nossa, e fica imaginando em qual momento da nossa vida aquela música se encaixa melhor. É engraçado pensar que ouvia músicas que achava linda, mas que não tinham a ver com o que vivia, não se adaptavam àquele momento. Um tempo depois, olha só, estou vivendo aquela música. Um barato. 

Ouvi Chico pela primeira com uns 10 anos de idade. Pelo menos essa é a primeira lembrança que eu tenho. Meus pais tinham uma coleção de quatro CDs, uma coletânea: O Malandro, O Trovador, O Romântico e O Político. É sensacional. Claro que não ouvíamos com tanta freqüência. Eu e meu irmão éramos adolescentes e ouvíamos rock a valer. Mas algumas músicas daquelas já me chamavam a atenção. Já no ensino médio, meu interesse por política me levou até a estante de CDs. Sentia a sensação de estar em 1968. Sentia inveja daquela geração. Cálice, Acorda Amor, Deus lhe pague, Apesar de você. Aquilo me encantou. Mergulhei no Chico e quis ouvir todo resto da coleção. Fui deixando o rock meio de lado, e nem era para parecer mais inteligente, juro.

A frase citada é de um artigo publicado em 1968 no jornal Última Hora. Nele Chico faz um questionamento da real necessidade de inovar a MPB, como se a única forma de se criar uma coisa nova fosse romper completamente com a velha. Chico ainda fazia samba, num momento em que a Tropicália e a guitarra elétrica abalavam as estruturas da cultura brasileira. Por isso a frase. Segundo Chico, “é certo que se deve romper com as estruturas. Mas a música brasileira, ao contrário de outras artes, já traz dentro de si os elementos de renovação” (1968). Assim, Chico Buarque poderia ser lúcido sem precisar ser velho. Não precisava de uma guitarra pra ser único.


Ora, não é esse o sentimento da minha geração? É preciso ser louco pra ser brilhante? Minha lucidez não é velha, estou convicto. Minha loucura talvez seja. A primeira parte da citação sempre me pareceu óbvia. Ao longo da história, muitos gênios foram, por engano, chamados de loucos. Mas o erro hoje se comete às avessas: muitos loucos são chamados de gênio. Prezo pela minha lucidez, portanto. Nem toda lucidez é velha, meus amigos.


"Nem toda loucura é genial, nem toda lucidez é velha".

Um comentário:

  1. "Sinto saudades de algo que não conheço, nem nunca vi." Eduardo Ballerine

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