quarta-feira, 14 de julho de 2010

Férias de inverno

O inverno é a melhor estação do ano. Desde criança, gosto muito mais das férias de julho que as de verão. Acho que nem sei explicar o motivo. Lembro só de algumas passagens da minha infância. Sou um cara de memória curta, mas esse blogue é um exercício intelectual e serve exatamente pra que eu me esforce em lembrar.

Nos meses de junho, ainda na escola, notava a proximidade das férias pelo frio que fazia de manhã. Era difícil levantar. Sair debaixo do edredom numa manhã fria é um desafio homérico pra mim. Eu gosto de dormir de manhã. Lembro da minha professora da 3ª série anunciar durante uma manhã gelada do Ipiranga: “Ainda bem que as férias estão chegando, está muito frio, é muito difícil levantar cedo nessa época do ano”. Acho que nessa frase a danada me conquistou. Hoje sei que um professor conquista um aluno em pequenas frases como essa. Se bem que nem me lembro do nome dela. Lembro bem do seu rosto e da raiva que senti quando me mandou pra diretoria só porque eu puxava as alças dos sutiãs das meninas para trás e soltava como se fosse um elástico.  O troço estralava nas costas da pobrezinha e eu morria de rir. Ficava puto. Quem usa sutiã na 3ª série? Nem projeto de seios elas tinham ainda. Fui pra diretoria com meu amigo Thiago, que praticava essa barbaridade comigo, não lembro o que aconteceu depois.

Chegavam as férias e eu tinha duas opções. Dificilmente ficava em São Paulo. Minhas opções eram Campos do Jordão, onde temos uma casa, e São Vicente, na casa dos meus avós. Gostava mais da segunda opção, mas no inverno a família sempre escolhia a primeira. Na verdade eu não tinha duas opções, iria pra onde me levassem, oras. Confesso que gostava mais da casa da minha avó, porque lá tinha meus amigos de rua, meu timinho de futebol e a menina que eu era apaixonado. Em Campos do Jordão eu era mais sozinho. Normalmente meu irmão levava um amigo dele e eu tentava acompanhá-los. Na verdade, minha infância se baseia em tentar sempre acompanhar meu irmão. E até certo ponto me orgulho disso.

Nas férias de inverno minhas atividades eram um pouco mais limitadas que nas de verão. Lembro que uma das coisas que eu mais gostava era de desbravar o mato da região. Ia com meu primo ou com meu irmão até um lugar onde havia um resquício de mata, aquela vegetação de araucária, homogênea e repetitiva, ou pra catar pinhão, iguaria que aprecio, ou pelo simples prazer de se embrenhar no mato. Eu era quase um bandeirante em busca do Eldorado. Eu era um capitão do mato caçando um escravo fujão. Eu era o próprio Tarzan, o próprio Mogli. É o mais perto que eu consegui chegar de tudo isso.

Antes de construirmos a casa, ficávamos em um igloo (iglu, em português), mas eu detestava aquela casinha fria de gesso. Gostava mesmo do restaurante que tinha lá. Serviam um frango à passarinho que, de lembrar, me deu água na boca. Gozado a gente lembrar dos lugares e sentir o gosto da comida de lá. Adorava também a mesa de sinuca. Nunca fui bom nesse diabo desse jogo, mas me divertia. Meu pai se achava o rei da sinuca e ficava horas ensinando a gente a jogar. Eu sempre perdia e meu irmão sempre tirava um sarro. Ficava puto. Nunca gostei de perder, mas aos 23 anos já me acostumei com a idéia.

Aí cresci um pouco com o passar do tempo. Campos do Jordão já tinha outro sabor na minha adolescência. Lembro da minha primeira madrugada sem meus pais na rua. Foi lá. Eu, meu irmão e um amigo andando pela cidade de skate (na maioria do tempo, de skate debaixo do braço). Eles, pela primeira vez, me levaram junto. Acho que assim começou minha adolescência. Sei lá, não sei se é normal escolher um marco pra uma mudança de fase na vida, como se fosse o chefão de uma fase de videogame. Se for normal, aquela madrugada foi o chefão. Na manhã seguinte acordei adolescente. Estava pronto pra me tornar mais um babaca com o rosto recheado de acne.

4 comentários:

  1. Sabe que por mais que eu adore o verão, sempre esperei muito pelas férias de inverno, acho que as imagens do inverno são mais bonitas, mas suaves, as pessoas tem outra aparência, os cheiros e os gostos do inverno são únicos. Lembro bem dos dias que eu passava em Campos de Jordão quando era criança, momentos maravilhosos. Mas hoje a minha ideia de férias de inverno mudou muito. Nos últimos 5 anos eu vou à São Paulo ou à Jarinú. Este ano espero ter uma surpresa, afinal vou tentar conquistar o mundo, fazer algo que eu nunca fiz. Será que vou transformar essas férias em boas lembranças?

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  2. Realmente muito legal esse texto, mais na 3ª serie e meio dificil alguem usar sutiã.É bem que eu queria ter uma casa em Campos.

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  3. João não me conheceu na terceira série. ou no berçário.

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