Devagar,
senão a vida atropela. Se a gente encara os fatos e range os dentes sem olhar
pro lado, a vida te passa uma rasteira, meu amigo. Mas admita: você nunca foi realmente
quem achava que era. Aliás, você continua aí parado por quê?
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fazendo o que as pessoas que você pensa que ama acham que você deve fazer. Esse
é o caminho, amigo. Senão, desentoca aquele vinil dos Beatles e bota bem alto,
pra vizinhança ouvir à meia noite. Aquela poesia antiga do Neruda, lembra? Leia
na praça, aos gritos, às seis da tarde. Publique o livro que escreveu ano
passado. Troque de roupa. Dance. Durma até tarde. Rasgue os papéis. Dê
descarga. Chore sem medo.
Mas não se arrependa. Não se arrependa quando tudo
desmoronar e você ficar sozinho. Mudo, talvez cego. Quando não se importar com
mais nada, acabou. A casa cai. Mas vai lá, chuta esse balde logo antes que seja
tarde.
E antes que fosse tarde, fui ouvir as palavras de alguém mais
inteligente do que eu, que disse:
- Você não se parece com o que pensa. Você não se parece em
nada com o que sente.