quarta-feira, 13 de julho de 2011

Treze de Julho

Era uma terça-feira de julho. O dia tinha amanhecido chuvoso e assim permanecia. Um dia de chuva em pleno inverno. Fazia certo frio. Dentro do carro deixamos os vidros fechados para evitar a chuva e o vento. Às vezes tínhamos que abrir um pouquinho para desembaçar. Havíamos acabado de nos conhecer. Tudo era completamente novo, deliciosamente novo. Difícil explicar como fomos parar ali. Difícil lembrar o que fiz antes ou depois daquele momento, mas lembro de cada detalhe, cada sensação, cada gesto daqueles instantes eternos. Foi há um ano.

O lambrusco sem gelo já não era mais tão interessante. Interessante era a situação, as possibilidades que acenavam para nós dois. Eu me interessava. Ela se interessava. Foram uma ou duas horas de conversa. Não sei bem. Um papo furado que, visto daqui, parece uma estrada que nos levava a um destino melhor do que jamais haviamos imaginado. Não acredito em destino. Mas o acaso não seria capaz de ser tão sutil. Eu tentava calcular meus movimentos, minhas frases. Mas era tudo tão automático, tão espontâneo. Tentava olhar quando era olhado, sorrir quando ela pra mim sorria. Ela estava linda. Seu sorriso é fácil, como é fácil também adquirir sua maneira divertida de falar. Falamos de futebol, de música, de coisas em comum. Falamos, falamos, falamos. Rimos e sorrimos um para o outro. Sentíamos.

Procurava o instante certo. Queria tomar a iniciativa, encontrar o caminho. Desejava há algum tempo. Queria um sinal. O tempo passava e eu me angustiava por ainda não tê-la beijado. Toquei em seu joelho, quase sem querer, quando fui mudar a música do rádio. Deixei minha mão cair sobre sua perna, também sem querer. Ganhei um sorriso, um brilho nos olhos. Fiquei cheio de coragem e de desejo. Em troca ela tocou meus cabelos usando a desculpa de que ia arrumá-los. Senti sua mão em mim. Queria que aqueles instantes, aquela sensação, durassem para sempre. Inclinei-me na direção de sua boca enquanto também tocava em seus cabelos. Aliás, me apaixonei pelos seus cachos antes de me apaixonar por ela. Desde que a vi, apressada pra lá e pra cá com sua camisa dos Beatles, seus cabelos me encantaram. Sonhava tocá-los, sentir seu cheiro.

A noite caía fora do carro. Dentro amanhecia. A chuva perdia a força. Meus dedos percorriam suavemente seus cachos de baixo pra cima, como um pente. Eu inclinava meu rosto, olhando fixamente para seus olhos. Muito desejo. Não pensava em nada. Percorria lentamente os detalhes de seus olhos castanhos. Tentava decorar, para nunca mais esquecer. Ela permanecia estática, como se me esperasse. Eu sentia que esperava por aquilo a vida toda. Ela me olhava como ninguém. Eu a queria como ninguém. De fato não pensava em nada. Só me inclinava em sua direção. As bocas se tocaram, doces. Um gosto molhado, único. Um arrepio na espinha, uma palpitação. O desejo. O beijo demorado. Os corpos colados. A sensação da plenitude. As estrelas. O vidro do carro ainda molhado pela chuva. O inverno nos trazia vida. O amor. Treze de julho.