segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sobre o casamento e a hidrografia do amor

Escrever exige mais que vontade de se expressar. Exige tempo, transpiração. É como sexo. O desejo por si só não é o suficiente. É como casar-se, amar alguém.  Não basta amar. Não basta estar. Frio na barriga.
A vida voa numa velocidade além do meu pensamento, aquém do meu sentimento. Há um ano casei-me. Com tudo. Festa, bolo e brigadeiro. Padre, padrinho e padrão. Terno, gravata e all-star preto. Noiva linda e sogro chorão (lembrei-me da cena e fiz uma rima). Casei-me, como queria e queria-se. Papel passado. Preto no branco. Aliança no anelar esquerdo. Apartamento, tinta, móveis, mudança, financiamento, carro, dívida, água, luz, telefone, internet, tv a cabo, iptu, ipva, imposto de renda, c&a, cartão de crédito, consignado, domingo na casa da sogra, trabalho, máquina de lavar, louça suja, visita inesperada, toalha molhada na cama. Casei-me.
Daquele dia vinte e cinco me lembro de tudo. Descobri que a memória, que muitas vezes me engana, pode ser substituída por algumas parcelas de R$200,00 gastas com fotógrafos e caras que fazem vídeos. Desses de casamento mesmo. Lembro-me da dor de barriga. Da espera. Da lágrima. De todas elas. Lembro do olhar. Daquela flor branca no cabelo. O sorriso fácil. Sua voz trêmula. Minha voz muda. As vozes de dois corações agoniados e felizes. Frio na barriga. Calor de novembro. Sensação de começar a vida, de nascer, de ser um par. Amor.

O amor é um rio cheio de meandros e afluentes, poucas cachoeiras. O curso d’água costuma ser lento, o que favorece a navegação. O leito é largo, se o amor é profundo. Da nascente brota água cristalina, enquanto em seu médio curso desce água um pouco turva, mas potável, boa de beber bem gelada. Evito bebê-la morna. Em tempos de chuva transborda amor. Inunda as margens. Periga até dar enchente. Em tempos de seca sobra um fio d’água que dá dó de ver. O barulho das águas no casco. O barulho das águas nas pedras. O pior do amor não é o barulho, é o silêncio. O silêncio é foz. O amor é um rio sem foz. Um delta infinito. Um porto.  

domingo, 8 de setembro de 2013

Pior de mim

Esse é o melhor de mim.
Eu vou te dar o meu pior. Pior que vou.
Esse é o pior de ti.
O que é aquilo?

Melhor não.




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