sábado, 10 de julho de 2010

A cor de São Paulo

Gosto da cor de São Paulo, especialmente a noite. Acho que gosto das luzes. Não falo do cinza, porque não a vejo só cinza. Nasci lá, em um hospital na Vila Mariana, que não me lembro o nome. Morei no Ipiranga até os 11 anos de idade, onde, portanto, vivi minha infância. Lembro de tudo pela janela do carro. Infância paulistana é assim, especialmente em famílias como a minha. Conheço cada cantinho do playground, da quadra e da piscina do edifício em que morei, mas a cidade mesmo só conheço da janela do carro.

O ar de São Paulo é o ar do meu apartamento na Rua Saioá, uma atravessa da Rua Vergueiro, perto de onde hoje é a estação Imigrantes. Aos finais de semana vinhamos a São Vicente, à casa dos meus avós. Os lugares que freqüentava em São Paulo, além do meu prédio e da escola, se restringiam a alguns shoppings e outros lugares que, no entanto, marcaram minha infância. Um deles é a Rua 25 de Março, a rua que fazia minha mãe sorrir de uma forma única. Quando era Natal, ou quando sobrava um dinheirinho, íamos almoçar no Mercado Municipal e depois fazer compras na 25. Às vezes íamos de ônibus, porque é difícil estacionar lá, o que pra mim era uma grande aventura.

Eventualmente não descíamos a Serra em algum fim de semana. Especialmente quando era inverno. Aos sábados ou domingos íamos a Praça de República, onde aprendi a gostar de Acarajé e de Tempurá. Era legal. Uma passada na Galeria do Rock e um almoço na praça. Havia uma feira de artesanato pra divertir minha mãe, cerveja pra divertir meu pai e música pra divertir a mim e meu irmão. Um dia vi um cara sendo esfaqueado lá. Eu tinha 9 anos, nunca mais esqueci.

Gostava de ir ao Parque do Ibirapuera também, tínhamos um cachorro preto e branco. Eu andava de patins e corria atrás dele. Às vezes alugava uma bicicleta e fugia da minha mãe. O Ibirapuera pra mim era mais legal que praia. Pena que não vendia raspadinha de groselha. O Museu do Ipiranga também era um lugar incrível pra mim. Me impressionava pela exuberância, mas fazia parte da minha paisagem cotidiana. Morava e estudava bem perto dele. Lá dei meu primeiro beijo.

Hoje ando por São Paulo fascinado e irritado. Mais fascinado que irritado. Em finais de semana ou feriados, como ontem, não ligo de me perder ou de atravessar a pé toda a Avenida Paulista. Gosto do vento cortando o rosto, silencioso. Acho legal ser um paulistano que tenta descobrir São Paulo, um turista. Tenho um misto de inveja e pena do paulistano. Um dia volto pra lá. Mas só um dia.

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