domingo, 25 de julho de 2010

A Lua de Minas Gerais

Eu fui rodar em Minas Gerais essa semana. Coisa de quem procura encontrar um destino pra vida, ou só procura farra mesmo. Ainda não sei o que estava procurando, mas encontrei. É interessante notar que somos diferentes longe de casa, somos uma pessoa em cada lugar. É como se recebêssemos influência do meio, como se o espaço interferisse na constituição da personalidade, ainda que de forma passageira. Estou viajando, eu sei.

Eu vi o pôr-do-sol mais bonito, depois falo dele. O que mexeu comigo mesmo foi ver a Lua de uma forma nova. Aliás, a Lua que fascina tanta gente por aí, pra mim nunca significou lá grande coisa. Sempre gostei mais das estrelas que dela, as estrelas brilham por si só, não precisam de ninguém. Senti isso especialmente depois de aprender na escola sobre a visita do homem a Lua. Ora, como não se encontrou nada por lá? Como não se pretende voltar? E aquele desenho? Cadê o coelho? Cadê São Jorge? Vocês acabaram com a magia, malditos americanos. Astro de merda, pensava eu. 

Pensava eu até observar a Lua sobre uma pedra bem alta, em uma cidade mais alta ainda. Uma cidade linda de tão calma. A Lua estava quase cheia e a cidade quase vazia. O silêncio ajudou um pouco. A escuridão da noite se transformara em um luar prateado. As coisas estavam prateadas, a igreja, as ladeiras de pedra, as pessoas caminhando. Lembrei que não precisava, pelo menos ali, pensar na vida que vivo aqui. Deitei sobre a pedra. Senti o frio sob minha cabeça e minhas costas. A pedra na verdade era uma pequena  e úmida gruta. Pensei na capacidade da Lua de iluminar a noite de forma tão delicada. A Lua não é tão atroz como o Sol em dia de verão. Ela é sutil, ilumina só o necessário. Embeleza a noite apenas quando está a fim, sem a obrigação de ser fundamental a alguém, aquecer e dar vida a tudo. A Lua não tem compromisso, é solta. Acho que foi por isso que, por um minuto na pedra, eu amei tanto a Lua. Ela me mostrou como vivia assim, tão leve e sozinha. Ultimamente tenho gostado mais de quem vive a leveza, o descompromisso. Eu não quero a Lua pra mim, quero que ela apareça quando tiver vontade. Ela é bem livre, só se mostra quando quer, só é bonita quando quer, só ilumina quando quer, só me inspira quando quer. Tudo isso sem fazer força.

Ainda deitado sobre a pedra gelada, me lembrei de uma música que minha mãe cantava pra mim quando era criança. Música linda. Ela cantava quando estávamos no carro, viajando a noite. Mas isso foi antes da minha desilusão na aula de Ciências. Eu dizia: “Olha que lua bonita, mãe!” E ela cantava comigo: Lua bonita se tu não fosses casada / Preparava uma escada / Pra ir no céu te beijar / Se tu colasse teu frio ao meu calor / Eu pediria ao nosso senhor / Para contigo casar / Lua bonita me traz aborrecimento / Ver São Jorge num jumento / Pisando no teu clarão / Por que casaste com um homem tão sisudo / Que come dorme faz tudo / Dentro do teu coração.

Cantei deitado mesmo. Quem estava por perto ouvia com certa atenção. Não sei se gostaram, canto mal pra caramba. Mas penso que acharam apropriado. A Lua estava realmente bonita, iluminando a noite. Testemunhava o sentimento mais bonito sobre aquela gruta úmida. A Lua convencia a todos ali de que vale a pena. O que vale a pena? Isso ela não disse. Ela é assim – acho que como eu – conta tudo pela metade.

3 comentários:

  1. Acho que nos sentimos tocados pela Lua, pois temos um lado escuro e misterioso que não mostramos a ninguém...

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  2. Me identifico com a Lua,pois também tenho minhas fases.....rsrsr

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  3. Cof Cof.

    L. < CHORA NO MISTÉRIO kkkkkkkkkkkkkkk

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