sábado, 17 de julho de 2010

Capricha na limpeza, Bruno

Meu quarto é uma baita bagunça. Tenho que ouvir minha mãe reclamar diariamente dele. “Quando você vai limpar essas prateleiras de livro?” ou “Quando você vai arrumar essa bagunça da mesa?”. Sempre marco uma data, mas ela nunca chega.  Minha mãe sabe disso, mas mantém a esperança. Aí você pensa: “Um cara velho assim levando bronca da mãe pra arrumar o quarto”. É sim, e daí, meu caro?

Morei sozinho durante quatro anos. Só quem passou por isso sabe da dor e da delícia de viver assim. Fui morar em Araraquara aos 18 anos sem saber fritar um ovo, sem saber lavar uma privada. Confesso que serviço doméstico é meu fraco. No primeiro ano de faculdade dividia a casa com um amigo que era excelente cozinheiro, o Bento. Rolava até uma feijoada às vezes. Nossos amigos riam da gente porque cada um era responsável por cozinhar um dia. Na vez dele tinha sempre feijão, uma carne suculenta, até strogonoff o safado fazia. Já na minha vez ele dava graças a deus quando rolava um macarrão com salsicha. Quando estava duro o prato era ovo com farinha, uma iguaria nordestina que aprendi com minha ex-sogra. Provocava gases. Aos poucos o Bento foi deixando de almoçar em casa nos dias em que eu cozinhava. Não entendo o motivo.

Quando o assunto era limpeza não havia tanta discrepância entre nós dois. Nenhum de nós gostava muito de faxina. Na verdade só reconhecíamos a necessidade dela depois de matar a terceira barata da semana. È nojento mesmo, pode falar. Quando o negócio beirava o insuportável, resolvemos contratar uma faxineira, a Dona Rita. Como odeio aquela mulher. Ela fazia faxina uma vez por semana, se eu não me engano. Deixava tudo lindo e cheiroso. Mas a desgraçada chegava às 10 da manhã e nos acordava com seus baldes e sua cara de poucos amigos. Dona Rita é do tipo de mulher que não mede as palavras, não tinha medo de pôr em risco seu bico de faxineira da kitchenet azul – cada uma tinha uma cor, uma espécie de personalidade - naquele bucólico bairro de estudantes preguiçosos. Ela não entendia que o pessoal economizava o dinheiro da balada pra pagar pelos seus serviços. Era um grande esforço que se fazia. Falava na nossa cara que a gente era porco, imagina só. Brigava se a gente a recebesse de cueca. Era quase nossa mãe baixando ali, em território inimigo. Que raiva que dava! Dona Rita só conquistou a galera quando levou sua sobrinha de 17 anos pra ajudá-la no serviço. Ainda hoje ela deve estar lá tocando o terror nos calouros de Araraquara.

Voltar a morar com meus pais não foi lá tão traumatizante. Se bem que ir é mais fácil que voltar. Sai cedo de casa e acabei voltando cedo também. Agora tenho que seguir os padrões. Há um ano e meio estou em processo de adaptação. Juro que semana que vem limpo as prateleiras e até minhas férias acabarem reorganizo meus papéis de cima da mesa. Ah, e prometo sempre pendurar minha toalha no varal também. Tenho saudades daqueles anos imundos.

3 comentários:

  1. É........comportamento adolescente dá saudade!!!!
    MJ

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  2. kkkkkkkkkkkkkk.........lembro com trauma da última limpeza no seu kit. Foram 35 sacolinhas de papeis e 30 baratas!!!!!!!!!!
    Ah!!! Sem contar as aranhas........kkkkkkkkkkkk
    Mãe

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