quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Até a próxima vez

Lembro da voz do Renato Russo nessas horas: “É tão estranho / Os bons morrem jovens / Assim parece ser / Quando me lembro de você / Que acabou indo embora / Cedo demais”. Acabei de receber um telefonema. Um ex-aluno morreu. Meningite. Não entendi muito bem. Não entendi o motivo da morte. Não sei lidar com ela. Tenho um pouco de medo, um tremor nas mãos, um nó na garganta.

O Diego foi meu aluno o ano passado. Um aluno brilhante, bastante crítico. E não é elogio ou homenagem póstuma não. Falei isso a ele mais de uma vez. Ele tinha um olhar sereno, levava a sério o que fazia. Bonito de se ver. Comentado na sala dos professores. Muito respeitado por todos os colegas. Não entendo a vida. Entendo menos ainda a morte. Não entendo a dor que provoca. Não é só a dor da perda, parece. Sei lá. Na verdade só provei desse gosto amargo uma vez na minha vida. Na morte do meu avô, há quase cinco anos. Acho que foi a primeira vez que a morte me desconcertou. Dá uma puta saudade só em falar nele. Acho que nunca vou conseguir escrever sobre isso. Queria ser mais cético, mais lúcido com essa conversa de morte. Não consigo.

Tenho um monte de alunos. Mais de duas centenas, com certeza. Não sei se já perdi algum nessas circunstâncias, acho que não. Mas minhas pernas bambearam ao telefone. Não entendi muito bem .  Tenho alunos que são mais próximos a mim, que tenho mais contato do que o Diego. Acho que foi a surpresa. Lembrei mais uma vez que não sei lidar com a morte. Na verdade, às vezes acho que nem com a vida eu sei lidar. Mas to aprendendo. Aprendo com meus alunos também, como aprendia com o Diego. Lembro dele ter me dito uma vez que minha aula seria mais interessante se eu jogasse a apostila no lixo. Adorei aquela frase. É assim que me lembro dele. Renato Russo encerrava assim: “Vai com os anjos / Vai em paz / Até a próxima vez”.

Um comentário:

  1. A questão não é encarar a morte, mas ser corajoso para continuar a vida com o que a morte nos tira.

    ResponderExcluir